CONVERSA DE BANCO DE PRAÇA
Elmar Carvalho
Enquanto minha mulher foi resolver um assunto na agência do Banco do Brasil da Praça do Liceu, sentei-me num banco que havia defronte, à sombra de vetusto e frondoso oitizeiro. Nele já estava um rapaz, que logo demonstrou ser um tanto inquieto e possuidor de notável incontinência verborrágica. Ao ver uma velhinha atravessar a rua movimentada em longa diagonal, ficou agastado, e considerou o fato uma grande imprudência, o que de fato é mesmo.
Incontinenti, comentou que, por causa de fato semelhante, matara um casal de idosos, quando fora motorista de ônibus em Belém do Pará. Na audiência, para defender-se, alegou que perto do local do atropelamento havia uma passarela. Segundo sua versão, o fato foi entendido como uma espécie de suicídio, pelo não uso do equipamento de proteção. Para lhe dar corda, eu demonstrava admiração, perplexidade e uma quase incredulidade. Não tecia comentários, nem crítica e nem julgamento, mas apenas dizia monossilabicamente: É mesmo? Não diga! Como foi mesmo? Isso fez o falastrão falar mais ainda.
Entre outras coisas formidáveis, disse que o problema do trânsito em Teresina era por causa dos “pardaizinhos”, que limitam a velocidade dos veículos. No seu entendimento, pelo que inferi, os carros deviam circular sempre a mais de sessenta quilômetros por hora, mesmo na Praça do Liceu. Falou que, num poste da rede elétrica do conjunto residencial onde morara, colidira várias vezes.
Como eu expressasse muita admiração, atenuou sua culpa dizendo que isso se dera em sua adolescência. Revelando-se um verdadeiro super-homem da psicologia e da força de vontade, acrescentou que usara vários tipos de entorpecentes, mas os abandonara, sem precisar de tratamento. Na sua ótica, sequer fora viciado. Não sei por que motivo, revelou-me que convivera com catorze mulheres, em diferentes épocas.
Perguntei se fora sob o mesmo teto, como marido e mulher; respondeu que sim. Indaguei-lhe sobre quantos filhos tivera; disse que quatro, mas que um morrera. Ante tantas coabitações, achei-o relativamente cauteloso e razoável quanto ao número de rebentos. Com relação ao número de companheiras, ao contrário da música de minha adolescência, considerei que ele era o próprio e famoso Barba Azul.
Devo dizer que não me senti mais instruído, mais sábio e mais iluminado com a conversa de que fui ouvinte atento e quase passivo. Porém, me senti mais bem humorado, ao menos por algumas horas.