Dia do Escritor

Dia do Escritor
Entre a Dor e a Glória de Escrever
Por Frederico Antonio Rebelo Torres
(União Brasileira de Escritores – PI)
Escrever não é um dom. Não é apenas vocação. Escrever é, antes de tudo, um ato de resistência.
Neste Dia do Escritor, mais que celebrar nomes consagrados, preciso falar sobre a condição daquele que escreve apesar das dores, dos silêncios do mundo e do esquecimento do tempo.
Escrevo por horas a fio, mesmo quando o corpo reclama, mesmo quando a saúde vacila. Durmo pouco, porque minha consciência está desperta. Há um chamado mais alto que as minhas vontades pessoais: a escrita como missão.
Não escrevo por vaidade, mas por justiça — a justiça da memória, da cultura, do legado. Escrevo pelos que foram apagados do tempo, pelos que contribuíram com saberes e beleza e que, por omissão institucional, não foram registrados. Escrevo pelos esquecidos.
Como escritor nascido no Piauí, terra de vozes potentes e muitas vezes ignoradas no cenário nacional, minha luta é dupla: contra o silêncio externo e contra o abandono interno.
Por isso, recebo com profunda esperança e compromisso a criação da Academia Miguel-Alvense de Letras. Vejo nela um aparelho regional; na Academia Piauiense de Letras, a bússola cultural do nosso Estado; e, nas demais instituições, todas capazes de promover o começo de uma reparação histórica. Vejo um espaço onde os ecos da nossa gente, do nosso chão, terão abrigo e permanência. Um lugar onde os grandes nomes do passado poderão, enfim, repousar com honra.
Escrever no Brasil — muitas vezes — é viver à margem do reconhecimento. Mas também é estar no centro da luta pelo sentido, pela preservação da nossa identidade e pela construção de um futuro em que nossa gente saiba de onde veio.
O escritor de ontem lutava com a pena contra regimes. O de hoje, muitas vezes, luta contra o esquecimento, a pressa e a banalidade. Mas a essência é a mesma: transformar o mundo por meio da palavra.
Celebrar o Dia do Escritor é mais que lembrar nomes — é lembrar dores, silêncios e renascimentos.
E que essa nova geração de autores piauienses — filhos de Miguel Alves, de Parnaíba, de Oeiras, de Picos, de Teresina, e demais cidades de nosso Estado— possa florescer, guiada por um compromisso inegociável: honrar a verdade de sua terra e transformar em literatura tudo aquilo que o mundo ousou ignorar.