Literatura

Gentileza é uma arte. Como toda arte, requer treino. Mas, em muitas pessoas, é algo natural, flui espontaneamente.

Gentileza é uma arte. Como toda arte, requer treino. Mas, em muitas pessoas, é algo natural, flui espontaneamente.

Gentileza é uma arte. Como toda arte, requer treino. Mas, em muitas pessoas, é algo natural, flui espontaneamente.

 

O jornalista e acadêmico Deoclécio Dantas contava esta, vivida por ele em meados da década de 1970: em visita a Teresina, em companhia do jornalista Odylo Costa, filho, o escritor Jorge Amado, no auge do sucesso, foi hóspede do empresário Jesus Tajra.  

Deoclécio foi entrevistá-lo para a Rádio Pioneira. Após a entrevista, o escritor pediu o nome e o endereço do jornalista para mandar-lhe de Salvador um livro seu.

O jornalista o atendeu, sem muita convicção. No íntimo, pensava: “Ora, como um escritor como Jorge Amado, com uma agenda de viagens pelo mundo e sem tempo para mais nada a não ser para administrar a sua vitoriosa carreira literária iria se lembrar de um modesto repórter do Piauí no dia seguinte àquela entrevista, certamente apenas uma a mais entre tantas que ele concedia?”

Para desapontamento e felicidade do jornalista, dali a poucos dias, chegava à sua casa um envelope postado em Salvador, tendo como remetente ninguém menos que Jorge Amado.

Dentro, um exemplar de uma nova edição do romance “Terra do Sem-Fim”, com uma atenciosa dedicatória.

A primeira edição desta obra, que virou novela da Globo, em 1981, é de 1943. O escritor o apresentou como o seu livro mais querido. Nele, Jorge Amado descreve conflitos em busca da conquista de pedaços de terra nas florestas da Bahia para transformá-los em plantações de cacau.

A volta por cima

Pois bem! A mesma grata surpresa que Deoclécio Dantas teve com Jorge Amado, nos anos 70, eu a tive, no início dos anos 1990, com Fernando Sabino, um dos escritores de minha predileção. 

Eu me preparava para publicar meu segundo livro de humor político. O título que estava em mente era “A volta por cima”.

Já perto de entregar o material à gráfica, li no Jornal do Brasil que Fernando Sabino estava lançando, naquela semana, no Rio, um novo livro de crônicas, intitulado justamente “A volta por cima”.

Desisti de meu título. Dias depois, em meio a uma conversa sobre outros assuntos com o cantor Waldick Soriano, que passava uma temporada por aqui, achei um novo título para meu novo livro: “Pra seu governo”.

Fiz uma carta para Fernando Sabino contando-lhe o episódio e ele, sempre muito espirituoso, mandou-me um cartão manuscrito, que guardo comigo: “Caro colega Zózimo, que “Pra Seu “Governo” dê a volta por cima!”

O poder da gentileza

Gentileza é uma arte. Como toda arte, requer treino. Em muitas pessoas, a gentileza é algo natural, flui espontaneamente.

Na vida apressada dos dias modernos, o que não falta é desculpa para passarmos por cima de pequenos gestos de gentileza.

Eu, particularmente, embora sem as ocupações e a importância de Jorge Amado e Fernando Sabino, sou mestre nisso.

Quantas vezes recebo um livro e não agradeço! Quantas vezes faço o agradecimento, ponho no envelope e não levo para o Correio! …

Por estas e outras, cada vez mais cresce em mim a admiração por pessoas como a saudosa Genu Moraes, o poeta Álvaro Pacheco e o doutor José Elias Tajra, minhas melhores referências em gentileza.

(Publicado originalmente em 3 de maio de 2015, na Revista Cidade Verde, ed.110, e republicado agora, neste espaço, em memória do empresário José Elias Tajra, falecido em 20/04/2025)