“O caderno de Marina”, o romance de Nelson Nery
Imagine um jovem italiano que veio trabalhar na Fábrica de Laticínios do engenheiro Sampaio, no final do século XIX, no sertão do Piauí.
Imagine também que esse jovem de espírito aventureiro deixou em sua terra natal uma namorada esperando um filho seu.
Imagine ainda que esse italiano, Pietro Clante, envelhecendo no Sudeste do Brasil, deixa uma misteriosa herança para a família italiana, encontrada 130 anos depois pela sua trineta Marina Bonoamigo.
Quem imaginou primeiro essa trama foi o advogado, professor e escritor Nelson Nery Costa, em seu romance de estreia, O Caderno de Marina, lançado ano passado pela Nova Aliança, em belíssima edição.
Mistérios
Ao virar de cada folha, o livro é uma sucessão de mistérios que vão instigando o leitor e sendo resolvidos de forma engenhosa com o avanço da leitura.
A obra é uma mescla de romance histórico-policial e aventura, com muito suspense, sendo contraindicada para quem gosta de ler à noite e costuma dormir cedo.
Muitos acontecimentos se desenrolam em torno da narrativa nuclear da obra – o misterioso caderno de Marina, que ficou órfã de pai e mãe ao ingressar na faculdade. Os pais morreram tragicamente em um acidente de carro.
Ela formou-se em biologia e tornou-se enóloga. Pesou em sua opção por essa carreira a tradição familiar. Por gerações seguidas, seus parentes trabalharam nas vinícolas da região da Toscana.
Uma bela mulher
A personagem é apresentada como uma mulher bela, inteligente e sedutora, assediada por muitos homens.
É ela que, como uma Indiana Jones de saia, larga tudo na Itália e corre o mundo em busca do tesouro perdido, mas sem ter a menor noção do que seja ele – ouro, pedras preciosas ou outra coisa mais valiosa ainda.
No romance, figuras históricas como Leonardo da Vinci e Maquiavel desfilam em meio a personagens comuns de nosso tempo.
E cidades como Roma, Florença, São Paulo, Rio de Janeiro, Oeiras, Campinas do Piauí e Teresina são os ambientes de grande parte da narrativa.
Muitas ações se passam em lugares como a Serra da Capivara, o Metropolitan Hotel, o Camarão do Elias e a Academia Piauiense de Letras.
O autor soube construir pontes bem-acabadas entre esses espaços e seu cinematográfico enredo.
Bilíngue
O romance, totalizando 300 páginas, foi escrito em português e italiano, em 2020, durante a pandemia da Covid-19.
O leitor passeia pela política, a literatura, a pintura e a música, e também pelo mundo sofisticado dos vinhos e da gastronomia.
É preciso uma viagem por muitos livros e também por muitas terras e mares para escrever um livro assim.
Mas é preciso, antes de tudo, criatividade e domínio da narrativa de ficção.
Nelson Nery esbanja talento em tudo isso. Seu livro chega para ocupar um lugar de destaque no romance contemporâneo brasileiro.
Fonte: https://zozimotavares.com/site/2025/02/11/o-caderno-de-marina-o-romance-de-nelson-nery/
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