Gestão

A “SOLIDARIEDADE” DAS EMPRESAS E DOS RICOS COM O CORONAVÍRUS

A “SOLIDARIEDADE” DAS EMPRESAS E DOS RICOS COM O CORONAVÍRUS

A “SOLIDARIEDADE” DAS EMPRESAS E DOS RICOS COM O CORONAVÍRUS

Magno Pires

            O Brasil é um país de religiosos: católicos, adventistas, protestantes, evangélicos... Esses grupos religiosos formam a maioria da população brasileira, com destaque para católicos e evangélicos, que integram as duas maiores parcelas, com tendência dos evangélicos ultrapassarem os católicos em quantidade.

As religiões induzem à solidariedade, à doação e ao desejo de ajudar ao próximo na esperança de que auxiliando aos mais necessitados, salvem-se; no Reino de Deus. É, mais apropriadamente, o tradicional dízimo. O espírito construtivo e donativo é da natureza e conduta do religioso de quaisquer das ceitas. Além da esperança, que instrumentaliza a fé – outra condição humana – com essas duas características subjetivas e imateriais, com base na religião, os homens imaginam alcançar Cristo Jesus na paz celestial, após a morte.

            As religiões acompanham o homem desde o princípio e/ou origem do mundo. A maioria dos homens, em sociedade, sempre adotou os princípios religiosos. Jamais se distanciaram deles. Aliás, se integram e interagem na ação com maior esperança, amor, doação e fé a cada dia. E nunca se afastarão desses caminhos sagrados. Pois, a cada dia, se consagram mais à devoção. Não pode viver sem essa empatia com o mundo espiritual e pleno do religioso com Jesus. E tudo isso conduz à maior crença, consequentemente, a crença em Deus, por meio da religiosidade e da solidariedade, com doação material.

            Entretanto, também, o Brasil é um país capitalista, com um enorme mercado interno de consumo, que favorece as grandes transações negociais, estimulando o lucro fácil e espoliativo. É também altamente concentrador de renda e péssimo distribuidor dessa renda, o que enaltece e fortalece as práticas capitalistas, mas forma uma multidão de pobres e miseráveis, necessitados e famintos, que os ricos são indiferentes às suas profundas aflições e precariedades. Faltando em tudo, inclusive a alimentação diária imprescindível à sua sobrevida.

            Os capitalistas, os ricos, as elites empoderadas e afortunadas não estão preocupados, interessados em solucionar os vários problemas que enfrentam os pobres do Brasil, que também integram o grande mercado consumidor brasileiro. E consomem também, embora em menor escala, os bens e serviços produzidos pelos capitalistas; Com seus vastos patrimônios.

            As igrejas, com os seus milhões de fieis, sempre foram aliadas e/ou parceiras dos portentosos e ricaços. Jamais se afastaram deles. Sempre agem e integram numa ação conjunta favorável às igrejas e ao capital. E é verdade que nenhuma instituição se sustentará sem os benefícios e os produtos do capital. E as grandes casas religiosas, especialmente católicas e evangélicas, sabem manejar essas condições e “virtudes”, em laço substancial consolidado grandioso, histórico e tradicional que resiste à passagem dos séculos compartilhando; e favorável às duas vertentes – religiões e capital. Nunca haverá um distanciamento desses dois polos. Eles se concretizam mais ainda com o caminhar do tempo.

            Por conseguinte, esses dois fortes polos, religiões e capital, caminharão sempre interligados, compartilhando doações aos mais pobres e miseráveis, mas aumentando-as expressivamente nos momentos mais difíceis, como nessa Pandemia, que assola o planeta, matando milhares e minimizando e decrescendo o grande mercado consumidor dos capitalistas; e retraindo, em grau também enorme, as relações donativas das igrejas. E, para assegurarem esse mercado, e não deixá-lo perecer por conta do Coronavírus, a “solidariedade” foi superdimensionada pelas empresas, com somas, valores financeiros, e objetos que estarrecem a dignidade humana. O Itaú-Unibanco doou R$ 1 bilhão. Coisa fantástica!

            E a pergunta: por quê essas doações humanitárias, cristãs e filantrópicas não são constantes?  Por quê são feitas apenas nessas épocas de grandes crises como essa do novo Coronavírus?

            As corporações e os homens parecem que só pensam com grandeza em períodos de crise. E, por isso, as doações têm o seu conteúdo e valor diminuídos. Desprezados. Passam a ser relativos. E deixam de ser tão relevantes e valiosas. Despem-se, portando, de certa magnitude valorativa. Diminuem imensamente de valor real e subjetivo.

            Os pobres, necessitados, famintos, descamisados, favelados, sem teto, miseráveis do Brasil, precisam da doação permanente das empresas, das igrejas, dos ricos, dos poderosos, dos afortunados, para ensejar, também uma solução definitiva de seus problemas, agruras e necessidades, para que deixem de passar infinitas privações, inclusive de alimentação diária.

            Por isso, que esse auxílio emergencial do presidente Bolsonaro e os grandiosos dízimos das corporações, aos milhões de pobres, por conta do novo Coronavírus, deverão ser permanentes. O Ministro da Economia, economista e doutor Paulo Guedes, apresentará a solução “mágica”, orçamentária e financeira, embora todos os brasileiros paguem esse contributo de auxílio à pobreza nacional.

            E as empresas, igrejas, ricos, afortunados, certamente apoiarão a iniciativa porque todos receberão os benefícios da decisão, fortalecerão as transações do mercado, consequentemente os seus negócios para aumentar os seus já exorbitantes lucros. 

                                   (Para os banqueiros e ricos do Brasil e do planeta)

 

Magno Pires é Membro da Academia Piauiense de Letras e o Vice-presidente, ex-Secretário da Administração do Piauí, Advogado da União (aposentado), jornalista, administrador de empresas, Portal www.magnopires.com.br, e-mail: [email protected].