Literatura

ABL na mídia - Correio Braziliense - Saga mineira

ABL na mídia - Correio Braziliense - Saga mineira

A combinação harmoniosa de matas, arquitetura colonial e vários tons de verde convida o leitor a mergulhar, com calma e atenção, na saga de cinco gerações – de meados do século 19, a partir do pioneiro Francisco Ribeiro de Assis, aos dias atuais. Na capa do recém-lançado livro “Memórias de uma família mineira: os Assis de Juiz de Fora” (Ouro sobre Azul), de Graça Salgado, salta aos olhos o retrato da casa-mãe, a Fazenda da Floresta, onde passado e presente se misturam para dar boas-vindas a personagens, realizações, empreendimentos e um fecundo pedaço de Minas Gerais.

Álbum de imagens

Cada página abre portas para histórias e janelas para as Gerais. A casa-mãe, de 1858, continua de pé e preservada. Testemunha da trajetória da família, seu nome batiza o bairro Floresta em Juiz de Fora, onde está localizada, tendo, ao lado, a centenária Fábrica de Tecidos São João Evangelista. Nessa linha do tempo, as atividades passaram do estágio agrário-exportador para a industrialização, sem perder o compasso da modernização do país.

Dividida em seis capítulos e contendo dezenas de imagens, num vasto álbum de família, a obra vai aos primórdios das terras onde fica a Fazenda da Floresta, antiga Fazenda do Retiro, à atualidade, para contar a história daqueles em cujas raízes se encontra parte da memória de Juiz de Fora, na Zona da Mata.

“Foram dois anos de trabalho entre pesquisas, entrevistas, seleção de fotos e redação”, conta Graça Salgado. O empreendedorismo da família chama a atenção, pois os Assis estiveram na linha de frente, em Juiz de Fora, do transporte público, a exemplo da circulação dos primeiros bondes, da iluminação elétrica e também do setor cultural.

“Embora pertencendo a uma elite de origem agrária e que impulsionou seu patrimônio pela diversificação em empreendimentos urbanos, os Assis, mesmo abastados, eram uma gente de gosto sóbrio, sem muita ostentação. Alguns luxos, porém, trazidos pelas inovações de um século que se modernizava, chegavam à Fazenda da Floresta. Entre esses, a luz elétrica e o gramofone”, escreveu Graça Salgado.

O primeiro capítulo tem título bem direto: “Onde tudo começou”. Francisco Ribeiro de Assis, nascido em 1807 no Turvo, hoje Andrelândia, na Região Sul de Minas, iniciou a vida como fazendeiro. “É o patriarca de várias gerações da família Assis. Com seu cunhado e sócio, o futuro barão de Cabo Verde, figura proeminente na região, participava também do lucrativo comércio de tropas que transitavam por esses caminhos”, conta a autora.

Os outros capítulos são “Fazenda da Floresta, a casa-mãe”, “A roda girando”, “A fé que não costuma falhar”, “Arte e cultura – janelas para o mundo” e “Inventário das memórias”. O livro é uma espécie de documento para a abordagem da vida privada de um certo tipo de família brasileira, percorrendo cinco gerações e mostrando sua convivência com personagens de relevância da política, como Getúlio Vargas (1882-1954). Foto de 1933 traz Vargas na Fazenda da Floresta, ao lado do então presidente de Minas (na época não se usava a palavra governador), Olegário Maciel (1855-1933), ambos rodeados pela família Assis.

Livros sobre a história de famílias são atraentes em muitos aspectos, principalmente pela oportunidade que se tem de conhecer, geração após geração, as mudanças econômicas, culturais, sociais e políticas do país.

Diz a autora: “Os Assis passaram a atuar, no princípio do século 20, no que havia de mais moderno no transporte urbano, na eletricidade e na telefonia. Conquistaram reconhecimento e lideraram negócios rentáveis graças à boa formação profissional dos quadros dirigentes, nascidos e criados no interior da família e por ela preparados para os desafios incessantemente postos pela sociedade pós-agrária”.

Historiadora e professora, Graça Salgado selecionou rica iconografia e reuniu depoimentos dos descendentes de Francisco Ribeiro de Assis e Carolina Isabel de Campos. Numa época em que as mulheres viviam “da porta para dentro”, como se diz no interior, ou seja, sem qualquer protagonismo, Carolina mostrou força e determinação ao ficar viúva, em novembro de 1873 – Francisco, aos 66 anos, morreu repentinamente. “Carolina foi incansável na administração da Fazenda da Floresta até 1888”, afirma a autora.

“Enquanto as páginas deste volume se desdobram em capítulos, passam-se três séculos, o Império cai, a escravidão é abolida, a economia muda, o gado substitui o café, a industrialização chega a Juiz de Fora. O tempo passa, a família se espalha, as coisas mudam”, resume a escritora Ana Maria Machado, integrante da Academia Brasileira de Letras, no prefácio do livro.

Matéria na íntegra: https://www.correiobraziliense.com.br/2023/12/6777245-saga-mineira.html