ANOTAÇÕES SOBRE CENTRO ANTIGO DE TERESINA
ANOTAÇÕES SOBRE CENTRO ANTIGO DE TERESINA
Magno Pires
As reminiscências e lembranças são muitas. E enormes. Profundas mesmo. Embora aquele cenário da década de 50/60 não exista mais. São novas manifestações e cenários que vemos. Aquele passado de ruas desérticas, alagadas, sem ninguém, sem esgoto, com as muriçocas, potós sucumbiu à história e à modernidade. Ruas e avenidas no barro, empiçarradas, com água ainda limpa, demandando para os Rios Parnaíba e Poty e/ou ficando empossada em algum lugar.
Os pássaros, não apenas o pardal, bebericando às margens do córrego onde a água de outras ruas desaguava para chegar ao velho Monge.
Grandes mangueiras, oitizeiros e cajueiros descortinavam o horizonte distante, aquecendo o sol causticante dos trópicos.
Os bentivis, os canários pardos e amarelos, as rolinhas, os sabiás, os vinvins, os galos de campina, as pipiras, anuns preto e vermelho, cantavam e acasalavam nas copas das árvores numa alegria e festas indescritíveis.
Os pardais não importunavam essas aves nobres. Eles representavam uma minoria aprisionada em certas áreas, tangidos pelo grupo de maior quantidade. Depois se tornaram maioria e ocuparam todos os espaços, afugentando os demais. Os pardais são bravos e violentos, perigosos mesmos, e dominam os seus espaços como nenhuma outra ave silvestre.
Atualmente representam um grupo majoritário e preponderante e como predadores contumazes impendem uma convivência pacífica e consensual.
Os macacos e soinhos também foram mortos ou tiveram que migrar para áreas mais distantes. O desmatamento e a construção dos espigões destruíram seu “habitat”. Aberturas de ruas, pontes, praças, viadutos reduziram mais ainda os seus espaços.
As capivaras, preás, cutias e caititus também desapareceram. Os ratos diminuíram.
As mangueiras, as azeitonas, as guabirabas, os cajueiros, canelas de velho, os marmeleiros, as cajazeiras, os umbuzeiros, além de outras árvores frutíferas silvestres, foram derrubadas para ceder os espaços à ação feroz das empresas imobiliárias, que não protegem e nem sequer respeitam a natureza para proteger o meio ambiente.
Essas empresas de construção civil e imobiliárias são mesmos ferozes em suas ações financeiras contra a natureza.
A Praça Pedro II, com os cinemas Rex e o teatro 4 de Setembro ladeando-as. E a tradicional e festiva rua Paissandu, a central de cabarés de Teresina, “visitada” pela elite política, econômica, empresarial e de servidores públicos que passa adjacente à Praça Pedro II, E, por trás do Rex e do Teatro 4 de Setembro, o histórico Clube dos Diários. Além desses, o prédio da Polícia Militar do Piauí na frente da Pedro II. Esse conjunto arquitetônico ainda hoje existe e é preservado pelo Governo do Estado e a Prefeitura de Teresina.
A Praça Pedro II, era o centro de encontro dos jovens e de adolescentes, que assistiam às “rodadas” e caminhadas das moças no centro da praça no ..... continuado e repetitivo movimento à procura de um namorado. E somente até às 21 horas, quando a velha usina de Força e Luz, geradora de energia a lenha, emitia uma buzina, avisando que a luz seria desligada logo mais e naquele horário. E aí se desmontava a “reunião de todos” que iam ali para conversar, divertir-se, encontrar amigos, namorar e/ou arrumar uma namorada.
Com o aviso de desligamento da luz, todos ganhavam os caminhos de suas casas, tomando as mais variadas ruas de acesso à praça, com intercâmbio às suas residências, mas já na escuridão da noite, sem energia e/ou iluminação pública.
MAGNO PIRES é Diretor-geral do Instituto de Águas e Esgotos do Piauí – IAE-PI, Ex-Secretário de Administração do Piauí e ex-presidente da Fundação CEPRO, advogado da União (aposentado), professor, jornalista e ex-advogado da Cia. Antáctica Paulista (hoje AMBEV) por 32 anos consecutivos.