BREVE HISTÓRIA DE UM LIVRO ESSENCIAL
“Cada livro é único, tem uma história que o individualiza no correr do tempo, deixadas pelos que o possuíram, pelos que o leram, pelos que lhe fizeram marcas ou anotações ao longo do texto”.
A sentença é do escritor e crítico Edmilson Caminha e está em seu livro “O professor, Beethoven e o ladrão”, seleção de artigos e crônicas sobre literatura e escritores. A obra, de grande riqueza literária, foi publicada em 2016, em Brasília, pela Thesaurus.
Se a assertiva é válida para os livros em geral, ela ganha mais sentido, particularmente, quando aplicada ao livro “Da Serra da Ibiapaba ao Campus da Ininga”, do jornalista Luiz Bello.
Resultado de uma pesquisa rigorosa e extenuante do autor, este livro “resgata quase quatro séculos de experiência pedagógica no Piauí”, como o apresenta o reitor da UFPI, professor Gildásio Guedes.
Assim, o livro cobre desde os primeiros momentos de ocupação do que hoje é o território piauiense aos primeiros dez anos da Universidade Federal do Piaui.
O começo
O livro nasceu de um concurso promovido pela universidade para contar a história da educação do Piauí.
Bello se inscreveu, meteu o pé na estrada, vasculhou arquivos e bibliotecas, varou madrugadas escrevendo e, afinal, foi classificado em primeiro lugar.
A obra que ficou em segundo lugar foi escrita pelo padre Raimundo José Airemoraes Soares, referência intelectual do Piauí e um dos fundadores da universidade.
O prêmio era a publicação da obra vencedora. E foi aí que a porca torceu o rabo. Por razões as mais diversas, a publicação foi sendo adiada indefinidamente.
Mil e uma noites e outras mais
Como nas mil e uma noites, Bello ouviu as mais diferentes histórias sobre o adiamento contínuo da publicação. Assim, acabou morrendo sem ver publicado o seu livro, pelo qual tanto se empenhou.
O que se dizia, a princípio, era que a universidade fazia corpo mole para editá-lo por que, à luz dos fatos e de farta documentação, o livro reconhecia a destacada participação do governador Alberto Silva na consolidação e expansão da UFPI, em seus primeiros anos.
Também se apontava a dificuldade em publicar um volume de mais de 500 páginas.
Depois, alegou-se que os originais datilografados sumiram. E por aí ia…
Por estas ou outras razões, o fato é que o livro não saía. Reconheça-se que, em vários momentos, não faltou empenho, mas a publicação travou.
Bateu na trave
O prefeito Wall Ferraz, ex-professor da UFPI e ex-secretário de Educação, era conhecedor do valor da obra e prontificou-se a publicá-la pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves, mas ele morreu no exercício do seu terceiro mandato, em 1995, e o projeto não foi adiante.
Com o falecimento de Luiz Bello, em 2005, a viúva dele, professora Salete, tomou para si a missão de levar adiante a luta pela edição do livro. O humorista João Cláudio Moreno, o jornalista Cláudio Barros e eu nos juntamos a ela e ficamos empurrando porta para ver este sonho realizado.
A esta tarefa, se juntaram ainda uns poucos da UFPI, entre eles o professor Fonseca Neto. Nesta fase, o livro chegou a ser digitado e revisado.
Mais recentemente, já no segundo mandato do professor Arimatéia Dantas como reitor, depois de uma nova temporada no limpo, o projeto da publicação do livro ganhou força, através do empenho pessoal da professora Jacqueline Dourado, superintendente de Comunicação da UFPI.
Além de sua equipe, ela mobilizou as professoras Amparo Ferro e Teresinha Queiroz e a Academia Piauiense de Letras no esforço conjunto para editar o livro nos 50 anos da UFPI.
O mandato do professor Arimatéia chegou ao fim e o livro não saiu. Bateu na trave.
Enfim, a publicação
O novo reitor assumiu, no final de 2020, e um de seus primeiros atos foi determinar à Editora da UFPI a impressão da obra, com que abriu agora em março a programação dos 50 anos da UFPI.
O reitor tomou tal decisão depois de ser informado pelo novo superintendente de Comunicação da UFPI, jornalista e professor Fenelon Rocha, sobre a relevância do livro e essa dívida que a universidade tinha com a história.
O livro do jornalista Bello sai, enfim, em bela edição, com algumas falhas, como a falta de um breve perfil biográfico do autor, nascido no Rio de Janeiro e que se apaixonou pelo Piauí, quando aqui aportou na década de 1970.
Ele presidiu o Sindicato dos Jornalistas e, nesta condição, foi um dos responsáveis pela criação do Curso de Jornalismo da UFPI. A ausência dessas informações em nada compromete o livro.
Uma odisseia
“Da Serra da Ibiapaba ao Campus da Ininga” é, em resumo, um livro sobre história com uma história própria, como na sentença de Edmilson Caminha. No caso, uma verdadeira odisseia.
Começa que, mesmo inédito, é um dos livros mais lidos e mais citados nas pesquisas sobre educação feitas por alunos e professores da UFPI ao longo destes últimos 40 anos.
O interesse que ele desperta mostra bem a oportunidade e a necessidade de sua publicação. Os que leram os originais querem a obra impressa. Os que não leram, também.
De parabéns a UFPI pelo resgate desta obra que abriu com chave de ouro o programa de celebração de seu cinquentenário!
Onde estiver, o espírito de Luiz Bello participa com alegria deste grande momento!