Blog
EMERGÊNCIA, CARROS-PIPA, BOLSA-ESTIAGEM
Mudam as palavras, mas o problema persiste sem solução permanente, que é a de assegurar água de qualidade para os milhões de nordestinos que residem no semiárido nordestino. Seca, ou a falta de água, porque chove pouco, para humanos e animais, induz a termos recorrentes como emergência, situação de emergência, carros-pipa. E agora, Bolsa-Estiagem; porém, no passado, eram as frentes de serviço, coordenadas pela SUDENE, em toda a região Nordeste. Do IFCS ao DNOCS foram criados para combater os efeitos perversos da seca. Continua o problema. Minimizam as situações, alternando os termos; no entanto, a resolução avança indefinidamente. Varando os séculos.
A falta de planejamento estratégico de longo prazo, elaborado pelo Governo Federal, leva a essa situação grave toda vez que as chuvas diminuem a sua precipitação na região. Há vários séculos que o Nordeste enfrenta esse problema. Inclusive D. Pedro I ameaçou de empenhar as Coroas do Reinado para resolver essa grave situação, mas também ficou apenas na ameaça. Foi uma exaltação política, como muitas que foram feitas no período do Reinado até a República. Persiste, entretanto, a falta d’água potável, embora a construção de muitos açudes, barragens, poços e de adutoras para distribuição de água em várias cidades e municípios dos Estados Nordestinos.
Em 24.11.93, sob o título de “A Seca”, escrevi para este DP artigo abordando esse gravíssimo problema. N’aquela seca, “2580 carros carregavam água para abastecer as cidades, as vilas, e os lugarejos do Nordeste. Todos alugados ao poder público e pagos com o dinheiro do contribuinte. Atendiam 1.151 municípios, com área de 1.100.000 km2 e 11,4 milhões de habitantes. Era uma fonte de receita para os proprietários de carros. E um grande exemplo da histórica ineficiência dos poderes constituídos”. Dizia ainda : “exclusivamente nos países subdesenvolvidos e em via de desenvolvimento observam-se caminhões-pipa, tambores e latas cheios d’água nas portas das casas. Filas enormes de pessoas aguardando atendimento. Num exemplo hilariante de miséria....” e do desleixo das autoridades competentes, também varando séculos.
Contudo, 19 anos depois da publicação d’aquele trabalho, a seca volta a atingir intensamente 80% da região do semiárido, abrangendo 550 municípios, com o governo criando mais um termo recorrente - o Bolsa-Estiagem -, e a promessa da Presidente Dilma Rousseff de investir R$ 799 milhões na construção de cisternas, sistemas simplificados de abastecimento, construção de aguadas e pequenas barragens, dentro do “Programa Água Para Todos” e mais R$ 2, 73 bilhões em investimentos emergenciais e de infraestrutura hídrica. Que não chova logo para que os recursos sejam aplicados e as obras construídas – é o meu pedido a Deus.