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“EXCREMENTO DO DIABO”
Apenas algo muito inovador, uma espécie de Google do setor energético, e que ainda não existe, conseguiria desbancar a hegemonia do petróleo” – esta afirmação e ressalva está no livro do Daniel Yergin sob o título “A Busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno”, um colosso de 800 páginas atualizado até momento de ser impresso.
Assiste, entretanto, ao autor toda razão. Por três vezes foi anunciada a morte do petróleo ou do “excremento do diabo”, apelido que o venezuelano Juan Pablo Perez Afonso, o fundador da Opep, deu para o petróleo: em 1880, ao fim da segunda guerra mundial e novamente nos anos de 1970 e nada aconteceu.
Ademais, as reservas atuais são estimadas em 5 trilhões de barris. E desde o início da indústria petrolífera, no século XIX, extraiu-se apenas 1 trilhão de barris. A produção cresceu cinco vezes desde o fim dos anos 1950 e só continua a aumentar. Novas tecnologias permitiram a exploração de jazidas já esgotadas, tornando-se economicamente viável o seu aproveitamento. E desde 2.000, a produção no fundo dos oceanos subiu de 1,5 milhão de barris diários para os atuais 5 milhões.
Alerta o autor de “A Busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” – a maior preocupação não deve ser com o esgotamento das reservas petrolíferas, mas com o aumento da demanda. Pois, como prevê um estudo, haverá um aumento de 75% na demanda mundial de energia para os próximos vinte anos.
Justamente porque a “renda per capita” de 2 bilhões de pessoas, mais de um quarto da população mundial, que hoje está em torno de 10.000 dólares, triplicará até 2031. Composto principalmente de chineses e indianos. Para suprir a demanda energética com o acréscimo dessa legião de novos abastados da Ásia e, em menor escala, da América Latina, a produção mundial de energia terá de crescer pelo menos 30% nos próximos dez anos” – alerta Daniel Yergin.
Os acidentes provocados pelas usinas nucleares de Chernobyl, na Ucrânia, um quarto de século atrás, e a exploração de Fukushima esmaeceram a esperança depositada na energia atômica. Na crise do petróleo de 1973, a energia nuclear representava 1% da matriz energética mundial. Presentemente, responde por 5,8%. A indústria nuclear cresce lentamente. Não acompanhará o ritmo da expansão planetária. E essas explorações arrefecem os ânimos. Isso, entretanto, não significa que a indústria do átomo será abandonada. Além, da preocupação política em construir novos reatores.
Há uma apreensão política estratégica que envolve o mundo, especialmente os países não produtores de petróleo. Ou d’aqueles que importam grandes quantidades como os Estados Unidos. O temor de tempos difíceis aumenta com a possibilidade real do Irã construir uma bomba atômica. A probabilidade de o Irã desfechar um ataque à Arábia Saudita, maior produtor mundial de petróleo, se torna cada vez maior. Se isso ocorrer, dezenas de países ficarão sem combustível. Pois, o Oriente Médio é responsável por 40% do suprimento e por dois terços das reservas mundiais.
O autor nem sequer faz referencia ás energias renováveis, como o combustível energético extraído da cana-de-açúcar muito defendido no Brasil, mais por conta do nosso nacionalismo atávico; e para manter um setor que emprega grande quantidade de mão de obra. E também pelos fortes empréstimos subsidiados concedidos à indústria e que amparam o setor.