Literatura

FLAGRANTES DE TERESINA

FLAGRANTES DE TERESINA

Elmar Carvalho

     

           I

 

À meia-noite

percorria a praça.

A noite era silente e fria

e nenhuma estrela luzia ...

O manto escuro tudo

envolvia e ninguém existia.

Apenas o olhar cego

do Conselheiro, ao longe,

indiferente, me via.

 

           II

 

Em criança

a carranca do Barão

em seu assombro me fascinava.

Seu bigode recurvo espetava o ar

a ceifar a brisa como às nuvens

e ao céu o alfanje lunar.

Um besouro inoportuno

bolinou o bigode do Barão

e o bigode de bronze

imperceptivelmente se moveu.

 

 

           III

 

Na praça Saraiva

uma flor fez-se borboleta

e desferiu um voo rasante

sobre a cabeça do Conselheiro

que permaneceu

impassivo e contemplativo

em sua dura

postura de escultura:

hierático e estático.

Fonte: https://poetaelmar.blogspot.com/

Foto: Google