O JORNALISTA E A VERDADE COMO ARGUMENTO
Advogados e jornalistas gostam de dizer, um e outro, que têm atividades parecidas. Ou até certo ponto complementares. Não se sabe de onde vem esta tese, como ela surgiu, nem em que se fundamenta. Afinal, uma olhada superficial pode nos mostrar que a advocacia e o jornalismo são atividades completamente distintas, no conteúdo e na sua forma, na conceituação e no fazer.
A advocacia se fundamenta na busca por fazer valer as leis, pela defesa da sociedade/cliente e na promoção do Estado de Direito com base no que está escrito na nossa Carta Magna e nos códigos normativos. O jornalismo, por sua vez, busca basicamente noticiar fatos, difundir notícias com a finalidade de informar, denunciar e provocar reações e mudanças na sociedade. Se fôssemos conceituar as duas profissões, resumidamente, poderíamos dizer que advocacia é a busca da manutenção da ordem através da aplicação das leis; jornalismo, por outro lado, seria o questionamento desta mesma ordem através da informação. Jornalismo é, por natureza, uma ação questionadora.
Se observados com um pouco mais de profundidade, porém, a semelhança ou complementaridade entre a advocacia e o jornalismo, de que falam tanto advogados quanto jornalistas, é uma realidade mais factível do que possamos imaginar. Basicamente porque ambos, advogados e jornalistas, têm na busca da verdade o princípio básico de suas atividades. É a verdade, acima de tudo, que se impõe como valor absoluto nas duas atividades. É também a verdade que se estabelece, tanto num quanto noutro caso, como instrumento de aplicação e manutenção da ordem e de promoção da justiça social. Porém, como bem nos lembra Platão, “a verdade não é algo concreto, palpável”. Tudo é relativo. Aristóteles, por sua vez, diz que não existe verdade sem enunciado. Para ele, é preciso a existência de uma materialidade exterior ao enunciado, verdadeiro ou não.
Analisando os ensinamentos dos dois mestres da filosofia, e trazendo-os à nossa prática e realidade diárias, pode-se dizer que a verdade se impõe pela força do argumento. Só através de argumentos sólidos, palpáveis e indiscutíveis pode-se chegar à verdade como instrumento de paz social, ou restabelecê-la como forma de corrigir injustiças. E aqui também se revela com especial clareza a semelhança entre a advocacia e o jornalismo.
Nunca é demais lembrar a luta da OAB em prol da liberdade de manifestação do pensamento e da liberdade de imprensa, essenciais ao pleno exercício da atividade do Jornalista, que não pode sofrer limitações por parte do Estado, pois presta serviço essencial à concretização do Estado Democrático de Direito.
É da própria gênese da atividade jornalística essa busca desenfreada por elementos que mostrem os fatos como eles devem ser - concretos, palpáveis, convincentes e sem qualquer limitação estatal. Verdadeiros, enfim. Da mesma forma agimos nós, advogados. É esta a mensagem que gostaríamos de deixar a todos os praticantes desta nobre e tão importante atividade, neste dia 7 de abril, data em que se festeja o Dia do Jornalista.
Willian Guimarães, advogado e presidente da OAB-PI
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