O SERESTEIRO

O SERESTEIRO

Joames 

(Joaquim Mendes Sobrinho)

Dizem que sou perdulário,

Vagabundo e aventureiro, 

Não ligo para o trabalho 

Nem dou valor ao dinheiro, 

Mas eu sou é repentista,

Cantador e seresteiro.

 

Só tenho por companheiro

Seguindo minhas pegadas

O violão que dedilho

As cordas bem afinadas

Fazendo as minhas serestas

Ao luar das madrugadas.

 

As ruas abandonadas

Não me oferecem perigo,

A solidão me acompanha,

O vento brinca comigo,

Demoro quando desejo,

Quando não desejo eu sigo.

 

Vivendo como mendigo

Aos olhos da raça humana,

Tem dia que como um pão,

Outro dia uma banana,

Mas quem me julga infeliz

Redondamente se engana.

 

Assim entra e sai semana

Sem ter preocupação, 

Meu lar de noite é a rua,

A minha cama é o chão 

De onde eu vejo as estrelas

Cintilando na amplidão. 

 

Dentro do meu coração 

Não existe devaneio,

Se a barriga está vazia

O meu crânio é sempre cheio

E a minha maior virtude

É não querer nada alheio.

 

De dia faço recreio

Na sombra dos arvoredos

Sentindo as cordas sonoras

Brincarem com os meus dedos

E à noite faço orações

Contando a Deus meus segredos.

 

A brisa me conta enredos 

Das mais bonitas histórias, 

Faço poemas pra lua

Olhando as estrelas flores

Gravando os dramas da vida

No pen-drive das memórias.

 

Eu não corro atrás de glórias

Com Aquiles e Jasão,

Não desejo ser Homero,

Alexandre ou Salomão,

Porque sei que  amanhã 

Serei pó como eles são.

 

Tocando em meu violão 

Pelas ruas da cidade,

Satisfeito vou cantando

As canções da liberdade 

Sem pensar em desventuras

Nem dar chance pra saudade.

 

Faço o que tenho vontade,

Porque só desejo o bem,

Sei que a natureza dá 

E às vezes tira também,

Por isso tendo em excesso

Vou doando a quem não tem.

 

Não discrimino a ninguém,

Nada me fere ou me agita,

Vou vivendo a minha vida

Sem saber o que é desdita,

Buscando a quem me procura

E evitando a quem me evita.

 

Tenho a viola bonita

Pra viver tocando em paz,

As ruas que me acolhem,

O rocio que a noite traz,

Pra quem não deseja nada

Já é ter coisas de mais.

 

Nos meus repentes finais

Convido meus companheiros

Poetas e repentistas,

Cantadores violeiros,

Afinem suas violas

E vamos ser seresteiros!