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QUADRO DESOLADOR NO SEMIARIDO (II)
A Cerâmica Serra da Capivara, instalada no município de Coronel José Dias, fabrica produto artesanal. Por isso, pela legislação do Imposto de Renda, é isenta de tributação. Mas, para atender encomenda do mercado externo e das grandes redes de supermercado nacional alterou os seus objetivos sociais. Por conta dessa alteração estatutária, as Receitas Federal e Estadual aplicaram uma multa de R$ 150.000,00, sendo R$ 110 mil da Receita Federal e R$ 40 mil da Estadual. E, como conseqüência dessa enorme taxação dos seus produtos, a cerâmica está atrasando o pagamento das Folhas dos quarenta operários, cujo valor é da ordem de R$ 43 mil mensais. As vendas caíram com a seca. A empresária, que é pernambucana, prefere pagar a Receita Federal, contudo, mantém os salários em atraso. Porém, os trabalhadores estão compreendendo a situação criada pelos fiscos e continuam trabalhando. Pois, o que não querem mesmo, é perder o emprego, sua única fonte de renda, num município onde estão instaladas apenas três unidades produtivas, todas do setor ceramista, inclusive duas fábricas de produção de tijolos.
A cerâmica é de propriedade de uma pernambucana. Produz 5 mil peças por mês. Recentemente, os produtos foram levados para uma feira internacional, que aconteceu em Recife, Pernambuco. A amostra internacional tinha produtos de vários países, inclusive os da Cerâmica Brennand, com grande histórico no mercado interno e externo. Mas, os produtos da Serra da Capivara são melhores, justamente porque o índice de “industrialização” é muito pequeno, além da argila que suplanta o material da produção Brennand. Só isso faz grande diferença.
Tributar uma “industria” cerâmica artesanal, localizada numa área reconhecidamente difícil, é algo inédito e inusitado. Por que essa modesta “indústria” impede a migração de vários jovens para o Sul e Sudeste do Brasil. E ainda faz circular dinheiro na cidade, além dos 40 empregos que gera e as refeições oferecidas aos operários de boa qualidade.
Além das multas das Receitas Estadual e Federal, a Vigilância Sanitária acaba de fazer uma inspeção na “industria”. E pretende praticamente fechá-la, o que se entende como um absurdo. Mas, enquanto isso, restaurantes e banheiros imundos em Teresina e nas margens das estradas estaduais e federais são um verdadeiro atentado à saúde, com proliferação de doenças. Os banheiros, desses postas de gasolina, com grande atendimento, afastam a clientela de tão imundos.
As elites políticas e econômicas do município de São Raimundo Nonato e da Microregião não gostam de Niéde Guidon. Justamente porque tem esclarecido os cidadãos sobre os seus direitos e sobre a preservação do meio ambiente; especialmente quanto às vantagens de manter os inúmeros sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara. Guidon fez por São Raimundo Nonato e os seus filhos e pelas cidades visinhas, o que os filhos d’aquelas cidades jamais fizeram. Por isso, que merece aplausos. O deputado federal Paes Landim “protege” Guidon, ajudando-a no seu louvável trabalho; e sr. Nivaldo Coelho, filho de Coronel José Dias, doou ao Museu do Homem Americano 3,3 hectares de terra onde estão fincados o Albergue, o refeitório, a loja, a cerâmica e todas as instalações do complexo ceramistas artesanal de Cel. José Dias.
Hospedado no Hotel Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, visitei quatro vezes cel. José Dias para sentir as preocupações e os problemas do complexo ceramista , através notadamente da simpatia e da inteligência do sr. Nivaldo, que fala sobre tudo com alegria e muita satisfação; inclusive da arqueóloga Niede, que se “cala”, quando sr. Nivaldo fala sobre as “coisas” do Parque Nacional da Serra da Capivara, patrimônio da Humanidade, pelas mãos de Guidon.