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RAZÕES DOS JUROS ESCOCHANTES
O Brasil permanecerá campeão em taxas de juros elevadas. As mais altas do planeta. A taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custodia) está fixada em 12,5% a.a pelo Banco Central. Apenas este ano foi elevada cinco vezes, o que é um outro estupro financeiro. A Hungria, o segundo país no ranking, pratica taxa de 2,4% a.a. Quase três vezes a taxa real brasileira, que fica em 7%, descontada a inflação. Os 12,5% contem inflação embutida.
O Brasil, segundo alguns economistas, teria substituído a hiperinflação histórica pelos juros estratosféricos. O Chile (1,8%), Austrália (1,4%) e México (1,2¨%), países com economia muito menor que a brasileira, praticam taxas de juros inferiores à brasileira, que é de 12,5%, sem descontar a inflação.
Como uma economia pode se desenvolver, crescer plenamente, com essa enorme taxa? Continuará com essa taxa de desenvolvimento econômico porque os juros altos inibem aos empresários contratar empréstimos. Porque, com essa taxa, ressalta-se, o retorno do investimento demanda prazo longérrimo. E, ainda assim, através do retorno do investimento, justamente porque taxas elevadas obstacularizam a expansão rápida dos negócios. Além dos empresários exitar, receosos de não quitarem o empréstimo, em expandirem rapidamente os negócios, através da contratação de empréstimos com juros aos píncaros.
Seis ilustres economistas alinham suas razões sobre as taxas de juros permanecer elevadas: Armínio Fraga – a baixa poupança interna, uma situação fiscal ainda não resolvida de maneira definitiva, receio que persiste sobre a inflação e de uns anos para cá, o crescimento acelerado do crédito (um fator transitório); Cláudio Haddad: a poupança e os investimentos são os fatores que determinam qual a taxa de equilíbrio de uma economia. E o governo brasileiro não poupa. Gastamos 12,5% do PIB em previdência e pensões, num país em que apenas 7% da população tem mais de 65 anos; Alexandre Schuortsuren: a hipótese mais promissora para explicar os juros altos aponta para o peso e o tamanho do credito subsidiado por aqui. Cerca de um terço de crédito é concedido a taxas muito inferior à SELIC; Carlos Thadeu de Freitas: temos escassez de poupança doméstica. A China, ao contrário, vive uma situação de excesso de poupança, o que faz com que os juros de lá sejam mínimos. O setor público também gasta muito. A tendência é que os juros caiam; Gustavo Franco: a taxa de juros no Brasil, ao que tudo indica, é um fenômeno fiscal. A mudança dessa situação que vemos hoje depende, consequentemente, de condições substancialmente melhores nesse setor. Paulo Vicente da Cunha: O Brasil tem um histórico de inflação elevada e de volatilidade persistente. Grande estoque de dívida pública, que hoje está ao redor de 66% do PIB. Não é muito em comparação com Itália e Japão, mas o Brasil tem uma taxa de poupança bem inferior à desses economias.
Não há unanimidade entre esses estudiosos da economia sobre a taxa de juros. Porém, a maioria se refere à necessidade do Brasil fazer poupança interna para que as taxas de juros baixem. Enquanto isso, o país pratica um crescimento pífio, justamente por conta da alta taxa de juros. Por isso não faz poupança. O maior exemplo é a China, o país que mais cresce e também o que mais poupa no planeta.