Tempo de contar

Carlos Rubem 


Por largos anos tornei-me assinante dos três principais periódicos de Teresina: O Dia, Meio Norte Diário do Povo. Chegavam a Oeiras, ao derredor das 11h, via ônibus da Empresa Líder, diariamente. 

Depois do almoço, lia-os. Em seguida, fazia chegar à casa do vovô Joel. Era disputada a leitura dos jornais pelas minhas tias solteironas: Amália, Aurora, Auristela, Alice e Rita Campos.

Foi através desses veículos de comunicação que a tia Amália Campos, Professora, 99 anos, tornou-se admiradora de Jesualdo Cavalcanti Barros (1940 - 2019), político de vasta atuação parlamentar, Conselheiro do TCE/PI, probo gestor, prefeito de Corrente, sua terra natal.

Ademais, devotava-lhe respeito e gratidão porque, enquanto Secretário Estadual de Cultura, do governo Hugo Napoleão (1983 - 1986), dotou a trezentona cidade de dois importantes equipamentos públicos: a restauração da casa que pertencera ao Cônego João de Sousa Martins (1814 - 1876), transformando-a numa pousada colonial e a instalação do Museu de Arte Sacra de Oeiras - MASO, no antigo Sobrado João Nepomuceno.

Em 2006, Jesualdo lançou seu livro de memórias intitulado “Tempo de Contar - o que sofri nos idos de 1964”. Reveladoras informações vieram a lume.

A tia Amália quis obter um exemplar desta obra. Mandou comprá-la numa determinada livraria da capital, logo no início do ano seguinte. Gostou muito do que leu!

Sabendo que me relacionava com o autor, pediu-me que colhesse uma dedicatória no livro que havia adquirido, quando fosse a Teresina. 

Os anos passaram-se e nunca desincumbi-me deste mandado. Somente em 2018, na sede da Academia Piauiense de Letras - APL, dei cabo a esta tarefa para a satisfação da velha mestra. 

Quando tomou ciência do oferecimento do Jesualdo, a tia Amália rabiscou uma interessante e elogiosa nota de rodapé: “Obrigada! Só o autor, o seu nome recomenda ser lido, logo (18.08.2018)”.

A APL esteve reunida, na Primeira Capital, em sessão solene alusiva à Festa do 24 de Janeiro. Assinalaram-se as comemorações do Bicentenário da Adesão do Piauí ao Grito do Ipiranga.

Quem integrou-se à luzida comitiva dos acadêmicos foi a Professora Maria do Perpétuo Socorro Rocha Cavalcanti Barros, ex-Reitora da Universidade Estadual do Piauí - UESPI (2001 - 2002), viúva do Jesualdo, com quem mantive conversações.

Disse-lhe do apreço que a tia Amália nutria pelo seu finado marido. Ficou feliz em saber disso. Aventou a possibilidade de conhecê-la, inclusive, o que não foi possível ante a prévia agenda roteirizada dos ilustres visitantes.

No entanto, fez questão de deixar um mimo a ser entregue por mim a tia Amália. Trata-se do livro “Tenho dito” da lavra do Jesualdo, editado pela APL - Coleção Centenário n° 145, acompanhado de uma dedicatória amiga.

Para não cair no desvão do esquecimento, repassei-lhe, hoje (12.02.2023), tal publicação à destinatária. 

Sentiu-se bastante valorizada pela lembrança. Já está enganchada na leitura!