Literatura

TERESINA NA MADRUGADA

               Cidade serena ás 4,20h. Observo esse cenário da janela do meu apartamento. Fico meditando. Olho à esquerda e à direita. O panorama é o mesmo. Cidade tranqüila. Manhã fria. Com prenuncio de chuva. Ou de mais chuva porque choveu bastante durante a noite.

 

                Nenhum transeunte. Nem sequer a carroça, com o carroceiro, que sempre passa. E nenhum carro. Apenas a claridade das luzes. A mansidão da noite. Os pássaros, alguns, ainda dormem. As enormes mangueiras, onde dormiam, foram derrubadas.

 

                Teresina não é dona dessa tranqüilidade . Até parece uma cidade sem problema: Com água, energia ruim, emprego, educação e saúde com qualidade... esta manhã transmite essa imagem.

 

                A sensação é de tranqüilidade! Que não há desigualdade econômica e distorção social; não concentra renda; todas as pessoas vivem bem, sem problema. Não é verdade!!!

 

                Nem sequer um policial. Nem os vigias. Os prédios sem nenhum. Os porteiros dos edifícios devem estar cochilando. Mas a noite avança para o clarear do dia. E nenhum carro, os pássaros, os vigias  e os policiais não aparecem. A cidade permanece mansa, tranqüila e calma, como as florestas à noite. Também nenhum transeunte a caminhar rumo ao trabalho.

 

                Parece, repito, uma cidade sem problema, com  segurança de seus habitantes.

 

                2ª feira, próximo da Semana Santa, talvez denuncie o vazio de Teresina. As pessoas seguiram para o interior para passar os dias santificados em suas cidades de nascimento.

 

                Mas, Teresina não é assim: mansa, sem habitantes, tranqüila, sem pássaros, sem carroceiro, sem vigias, sem policiais..., apenas com a claridade das luzes e o suposto infinito da noite. É agitada, com muitos pobres e a minoria rica, com intensos e fortes distorções sociais e econômicas, com migrantes, que migram para o Sudeste, para o Centro Oeste, para o Norte, para o próprio Nordeste: Recife, Salvador e Fortaleza.

 

                A cidade continua dormindo! Numa mansidão estranha. Surpreendente! Nem sequer os pardais, com o vozerio irritante, certamente indignados com os homens que derrubam as árvores, desconstroem os seus espaços e acabam com os seus ninhos, deixando-os sem casas e sem espaços, protestam. Eles também desapareceram. Foram em busca de outros ambientes ou morreram no percurso. Migram feito os homens em busca de emprego, de sobreviver n’outras cidades. Porque os empresários da construção civil, das academias de ginástica, dos grandes armazéns e lojas, dos estacionamentos que ocupam os espaços das aves, dos pardais, dos bentevis... eles contestam também, assim com a natureza.

Teresina esta serena à noite. Embora falte água para 500 mil pessoas. É um povo que não se revolta. Mansidões do povo e da noite. Nem sequer s Ciência Política explica essa enorme contradição.