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SOBRE O OTIMISMO - 80% DAS PESSOAS SÃO OTIMISTAS

SOBRE O OTIMISMO - 80% DAS PESSOAS SÃO OTIMISTAS

O otimismo é o vinho tinto das emoções. Uma ou duas taças por dia fazem um bem enorme. Duas garrafas arruínam a pessoa. A diferença de volume da bebida ilustra os dois tipos de otimismo, o racional, uma das conquistas evolutivas mais preciosas da espécie, e o irracional, a fonte de grandes tragédias históricas e fracassos pessoais. A média das mais amplas pesquisas já conduzidas sobre o tema revela que cerca de 80% das pessoas são otimistas. Essa é a parcela da humanidade capaz de enxergar o copo meio cheio. A outra parcela, a minoria, cuja mente vê o mesmo copo meio vazio, tem uma única vantagem sobre a maioria, pois, como diz o ditado. ‘*o pessimista só tem boas surpresas”.

O otimista tem más surpresas e é capaz de assimilá-las e transformar o azedume em doce limonada. Do ponto de vista da psicobiologia, o pessimismo é um defeito na fiação cerebral, pois a evolução premiou os otimistas com enormes vantagens psicológicas. Afinal, como sair da caverna e disputar a comida com um tigre-dentes-de-sabre sem calcular como positivas suas chances de vencer a fera? Como acordar cedo, trabalhar e ter filhos sem a esperança de que o dia seguinte será melhor que o anterior? Por que investir na criação de uma empresa sem a confiança em que ela vai crescer, gerar empregos, dar lucros e perpetuar o nome de seu fundador? Como se deixar trancar em uma cápsula no topo de um foguete com energia suficiente para iluminar uma metrópole por um mês sem a confiança racional em que as probabilidades de o voo dar certo estão do seu lado? Os otimistas movem a humanidade. Eles vivem mais e têm maior resistência às doenças. Quando presos a um leito de hospital, são eles que têm maior chance de cura. Os otimistas ousam mais, poupam mais e aposentam-se mais tarde. Se, como asseguram os filósofos, a consciência da morte toma o pessimismo inerente à condição humana, o instinto vital se alimenta do otimismo para que a ideia da finitude não nos enlouqueça.

Com todo esse poder, o otimismo não passa de uma ilusão. Mas é um erro subestimar as ilusões. Sem elas, a vida é insuportável. Em seu livro The Optimism Bias: A Tour of the Irrationally Positive Brain (em tradução livre, A Propensão para o Otimismo: um Desvio no Cérebro Irracionalmente Animado), a neurocientista Tali Sharot, da University College London, lembra que “a ilusão mais perigosa é achar-se imune às ilusões”. Ela mostra como está superada a arcana contraposição entre a visão rósea do "melhor mundo possível" do alemão Leibniz (1646-1716) e a de seu feroz opositor, o francês Voltaire (1694-1778). Os estudiosos do comportamento humano avançaram muito e puseram fim à explicação simplista de que o otimista é um sonhador descuidado e o pessimista uma pessoa realista, com os pés no chão. Diz Tali Sharot: “O que nos interessa entender agora é o comportamento do otimista racional, a pessoa que projeta uma ilusão realista sobre seu futuro".

As pessoas mais interessantes são os otimistas com os pés bem plantados no chão. São os arquitetos do futuro, que tomam uma ou duas taças diárias do vinho da ousadia. São as personalidades com um olho nas lições do passado e o outro nas questões do presente e nos desafios do futuro. São ao mesmo tempo raízes e asas. Ilusão e realidade.

(Extraído da Revista Veja da Matéria "Otimismo", pág. 71, de 23/01/2013)